domingo, 16 de agosto de 2009

30 anos da reconstrução da UNE


Assembléia da BA homenageia ato com sessão especial

Sessão Especial na Assembléia Legislativa da Bahia marca os 30 anos do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) que entrou para a história como o Congresso de Reconstrução da entidade.

A cerimônia aconteceu na manhã desta sexta-feira, 14, no plenário da Casa.

Abaixo carta que foi lida durante o ato solene, enviada pelo presidente da UNE, Augusto Chagas, aos autores da sessão e parlamentares da Assembléia baiana,

São Paulo, 13 de agosto de 2009

Excelentíssimo Senhor Deputado Marcelo Nilo, Presidente desta egrégia Casa Legislativa, na qual saúdo os demais deputados presentes.

Excelentíssimo Senhor Deputado Yulo Oiticica (PT) e Excelentíssimo Senhor Javier Alfaia (PCdoB), autores dessa Sessão Especial em homenagem aos 30 anos de Reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE).

A todos os participantes desta sessão minha especial saudação àqueles que diariamente continuam escrevendo a história da UNE nesse grande e combativo estado da Bahia, que vem contribuindo nas lutas históricas a favor dos estudantes brasileiros.

Neste ano, que completamos 72 anos de existência, lembramos também a reconstrução da entidade como uma maneira de exaltar os que tombaram em nome de um país melhor e de uma entidade sólida e que continua a erguer a bandeira representativa dos estudantes brasileiros.

Desde a primeira data de criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 11 de agosto de 1937, com a instalação do I Conselho Nacional dos Estudantes, na Casa do Estudante do Brasil, dirigida pela feminista e poeta Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça, a entidade vem zelando pelos estudantes. Em 1938, com o II Conselho dos Estudantes, ganha corpo e passa a ser enxergada como uma entidade política, capaz de representar os jovens na luta por uma universidade mais democrática.

Décadas depois, a sede da entidade, localizada na Praia do Flamengo, número 132, na cidade do Rio de Janeiro, é incendiada pelo militares durante o golpe de 1964. Em 1971, a estrutura que havia sobrado foi totalmente destruída.

Mesmo assim, a entidade resistiu e se manteve na clandestinidade, contra tudo e contra todos aqueles cujo objetivo era o de obstruir o caminho para a retomada da democracia. E foi com essa mesma força que os militantes se articularam para fazer da UNE a primeira das organizações nacionais, com representatividade, destruídas pelo regime militar, a reorganizar-se.

Em 1977, aconteceram os primeiros sinais de reorganização da entidade, com as tentativas frustradas de realizar o III Encontro Nacional de Estudantes (ENE). Uma em Belo Horizonte (MG), quando os delegados estudantis foram impedidos por tropas policiais, que bloquearam a passagem dos ônibus para a cidade; e as outras duas foram em São Paulo: uma na Universidade de São Paulo (USP), e outra na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Mas também sofreram violenta repressão.

Foi somente dois anos depois, tendo como pano de fundo as mobilizações estudantis e de trabalhadores pela anistia ampla, geral e irrestrita, as lutas sindicais e greves de operários, professores, médicos e funcionários públicos, que se deu início na manhã do dia 29 de maio de 1979 o XXXI Congresso da UNE, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador, que reuniu cerca de sete mil estudantes, entre os quais 2300 delegados.

Durante dois dias os participantes se reuniram e debateram as bandeiras do movimento, mas, principalmente, se debruçaram sobre os acontecimentos sócio-econômicos daquele período. Ao final do encontro, foi eleita uma nova diretoria e um novo presidente, Ruy César, o primeiro depois da reconstrução. O encontro entrou para a história como o Congresso de Reconstrução da UNE.

Depois disso, os militares ainda tentaram novamente derrubar a entidade, sob o argumento de que seu presidente eleito no 33º Congresso, em 1981, era filho de imigrantes espanhóis cujo pedido de naturalização já havia sido negado duas vezes. Javier Alfaia, atual deputado desta Casa, era estudante de arquitetura quando se tornou diretor de Cultura da UNE, em 1980, e presidente, no biênio 1981-1982. E mesmo sofrendo represália do governo militar, que abriu inquérito para cassar seu visto de permanência com a finalidade de expulsá-lo, se manteve firme e forte no comando da entidade. Por conta do episódio de luta pela permanência de um estrangeiro numa entidade brasileira, a UNE ganhou reconhecimento e notoriedade internacional.

Eu, como militante e presidente desta entidade, tenho orgulho de fazer parte desta cerimônia, mesmo que por carta. Espero honrar o cargo que me foi concedido recentemente, no 51º Congresso da UNE, e ter a mesma bravura daqueles que ousaram, como Javier Alfaia, que adotou este país como sua pátria, onde luta até hoje por sua gente e pela manutenção da democracia. Obrigado a todos desta Assembléia, em nome da UNE.

Viva a União Nacional dos Estudantes!

Viva a luta do povo brasileiro!

Saudações estudantis,

Augusto Chagas

Presidente da UNE

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